A arte de trolha: a arte do faz tudo em obra?
Depois da arte de pedreiro, com a construção da estrutura e levantadas as paredes, é a vez da arte de trolha entrar em obra.
É com ele que a obra começa a ganhar “personalidade” com a aplicação dos diversos acabamentos.
Mas a arte de trolha requer, em toda a obra, um leque de conhecimentos e de prácticas diversas.
São essas prácticas integradas nas funções de um trolha, umas mais óbvias do que outras, que ficará a conhecer ao longo deste artigo.
Também ajudará a definir as características de um bom, ou mau profissional.
Mas ainda antes…
Os responsáveis pela execução das redes de saneamento, abastecimento de água, electricidade e de outras infraestruturas, fazem a marcação dos respectivos traçados, preparando a sua entrada em obra,.
É sobre as marcações, que o trolha abre os rasgos (roços) por onde vão passar as tubagens, e que os fecham depois de instaladas.
Fechados os roços, inicia-se o revestimento das paredes em tijolo ou em bloco, com argamassa de cimento para receber o acabamento.
Começar a revestir
É nesta fase, que a qualidade do trabalho do pedreiro se revela, seja no prumo ou nas esquadrias das paredes, ou no nivelamento dos pavimentos e tectos.
Se, com má qualidade, é o trolha que deve (se possível) minimizar ou corrigir os erros, utilizando a espessura de argamassa para compensar as diferenças.
Primeiro, com o chamado chapisco, uma argamassa grossa e áspera para “agarrar” o emboço, que é uma argamassa de regularização e de protecção da superfície.
Feito o revestimento das paredes, a fase seguinte é a execução ou aplicação dos acabamentos, seja para pintura, cerâmicos ou outro material.
Os acabamentos
Para a pintura, é ainda necessário preparar a superfície, aplicando manualmente ou mecanicamente o reboco, uma camada fina de massa de estucar à base de gesso.
No caso das paredes em garagem ou arrumos, o reboco é uma argamassa fina que pode ter acabamento liso (afagado) ou areado (textura fina).
No caso dos cerâmicos, aplica-se igualmente um reboco fino sobre o emboço, para assentamento das peças com cimento-cola.
Nos pavimentos, é aplicada sobre a laje, uma argamassa de cimento e areia (betonilha) para regularização e suporte para a aplicação de cerâmico ou madeira.
A aplicação dos materiais cerâmicos em paredes ou pavimentos é outro dos trabalhos realizados pelo trolha.
O assentamento de cerâmicos: a preparação e o resultado final
Um dos cuidados que um bom profissional deve ter, é a preparação do assentamento das peças cerâmicas, tendo em conta:
- o respeito pela estereotomia prevista no projecto (desenho com a projecção das peças no pavimento e nas paredes)
- o alinhamento das juntas das peças verticais com as peças horizontais em pavimentos com cerâmicos, quando não exista desenho com a estereotomia
- a horizontalidade e a verticalidade das juntas.
É na colocação dos materiais cerâmicos que é mais visível a qualidade do pedreiro e do trolha que, respectivamente, executaram e revestiram as paredes.
O primeiro pelo prumo, quando a linha de intersecção de duas paredes e as juntas verticais das peças não estão paralelas.
O segundo pela esquadria, quando as peças de fecho para as paredes e ao longo destas, têm de ser cortadas fora de esquadria.
Ainda que um mau trabalho do pedreiro possa em muitos casos impossibilitar uma melhoria, o mau trabalho de um trolha pode arrasar o bom trabalho do primeiro, e com isso, determinar um mau resultado final!
Outro dos cuidados a ter, é na aplicação uniforme da argamassa em toda a peça, evitando o toque a oco e fragilizando a sua resistência ao impacto.
A colocação das madeiras, indiferente à solução em causa (soalho, colado ou flutuante), será feita por um outro profissional: o taqueiro.
Agora, no exterior da obra
Até agora, apenas nos referimos aos trabalhos da arte de trolha executados no interior, mas há ainda uma série de trabalhos a serem executados por este profissional.
Referimo-nos ás fachadas, à cobertura ou telhado, aos arranjos exteriores e no apoio a outras artes como a de saneamento.
Nesta última, é o trolha que reveste e faz os canais no fundo das caixas das redes de saneamento e das águas pluviais, que vão ligar à rede pública.
Nas paredes exteriores, para além do revestimento com argamassa de cimento, faz também (se for o caso) a aplicação do sistema de isolamento térmico pelo exterior, e sobre o qual já escrevemos neste blog.
Numa fachada com acabamento a pintura, o trolha fará ainda a aplicação do reboco areado, uma camada fina de regularização com textura fina.
Se o cerâmico for o material escolhido para uma aplicação tradicional, esta é em tudo idêntica ao processo referido para as paredes interiores.
Se a fachada for do tipo ventilada, ou seja, quando há uma caixa de ar entre a parede e o material de acabamento, ao trolha caberá a tarefa de fixar os perfis ou os grampos que vão suportar as peças.
O trolha fará ainda, o assentamento das soleiras para as portas e dos peitoris para as janelas, tendo especial atenção no seu nivelamento e vedação.
Numa cobertura ou num telhado, são diversos os trabalhos a serem executados pelo trolha, consoante a solução projectada.
Na cobertura plana, será a execução da camada de argamassa com as pendentes necessárias para o escoamento da água da chuva, e para receber o sistema de isolamento térmico e de impermeabilização.
Se esta for acessível, por exemplo um terraço, com acabamento em cerâmico ou em lajetas de betão colados ou sobre apoios em neoprene, a sua aplicação será também executada pelo trolha.
Nos telhados tradicionais, da construção das “réguas” em cimento ou colocação de perfis para apoio da sub-telha e das telhas e a aplicação do sistema de isolamento, tudo é executado pelo trolha.
Nos arranjos exteriores, do revestimento dos muros, às zonas de circulação em lajetas de betão, cerâmicos ou apenas em argamassa de cimento (betonilha) à vista, tudo é trabalho de trolha.
Nas zonas exteriores em cubos de granito, a sua aplicação sobre caixa de areia, será realizada por um outro profissional: o calceteiro.
Em resumo:
O trolha é um profissional multifacetado quer nas suas competências directas, quer no apoio às outras artes de construção.
Não será por isso de estranhar, que será o profissional que mais tempo permanecerá em obra.
Mas do seu trabalho depende muito, o bom resultado final de uma obra. Daí a importância da qualidade dos profissionais.
Mas é também do rigor e da existência ou não de um projecto de execução, a par do acompanhamento da obra por técnicos especializados, que resultará uma obra com qualidade e com respeito pelo projecto.
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